Apresentamos a seguir a proposta premiada com menção honrosa no concurso nacional para a requalificação do Mercado Público da cidade de Lages, em Santa Catarina, promovido pelo IAB-SC. O projeto a seguir foi desenvolvido pelos escritórios Estudio BRA Arquitetura e Mono Arquitetos.
Dos arquitetos: O dicionário Aurélio define como mercado a ‘referência convencional em relação à compra e à venda’. Um local físico e simbólico, palco de uma das mais importantes relações da nossa sociedade: a troca de bens produzidos. Um mercado urbano como o de Lages é o principal mecanismo de integração campo – pessoa – cidade, e de tamanha importância que seu funcionamento vai além da simples compra e venda de mercadorias, mas como elemento chave de tradição rural, cultura e urbanidade. É o mercado que dá sentido à existência do campo, da cidade, e da sociedade como a entendemos. O município de Lages, assim como a grande maioria das cidades, passou por mudanças, expansões, modernizações, recebeu novas estruturas, infraestruturas, e diversas outras situações e avanços.
Naturalmente, não é tudo que acompanha esse desenvolvimento, e o mercado municipal, como instituição e também como construção, não acompanhou estas mudanças, fazendo enfraquecer esta relação descrita entre produção rural, cultura urbana (patrimônio histórico e turismo), e função social (compra e venda). Para a recuperação do mercado municipal de Lages, a proposta de nossa equipe leva em consideração primeiro a cidade atual: os fluxos de mercadoria, de compradores e munícipes; o crescimento da população; o dinamismo da função mercado; os projetos urbanos aprovados. Em seguida, sua história: procuramos respeitar ao máximo o corpo existente, e valorizar sua inserção na malha urbana e no terreno onde se encontra. Como resultado de nossa análise, diagnóstico e diretrizes, o conceito do projeto vai além da mera restauração do antigo edifício do mercado. Propomos a concepção de um pequeno complexo que possa unir o comércio, o lazer, entretenimento, serviços e um novo ponto turístico. Para seu melhor funcionamento, a nossa proposta se define nos seguintes pontos:
Tratamento do edifício histórico:
Ao analisar a situação do prédio histórico, julgamos imprescindível a utilização do corpo principal do mercado como galeria principal dos boxes comerciais internos. Para que isso seja viável, consideramos uma reforma interna de seu piso, seus revestimentos internos, refazer a infraestrutura hidráulica, elétrica e de lógica para atender os comerciantes, as áreas de serviço e administração.
Seu acesso principal seria pela Rua Hercilio Luz, por onde caminha o maior fluxo de pedestres, porém tivemos a preocupação de manter as aberturas existentes e criar novos acessos na esquina das ruas Manoel da Silva Ramos com a Rua Monte Castelo. Este novo acesso será feito por 3 aberturas feitas na alvenaria de modo a não conflitar com o desenho original da esquina e valorizar este novo ponto de entrada. Sua circulação interna aconteceria pelas ruas internas formadas pela disposição das lojas. Na Rua Monte Castelo está o principal acesso de serviços, docas de recebimento e descarte de material, e também acesso ao estacionamento proposto.
Implantamos no térreo uma quantidade de 48 boxes comerciais, 9 a mais dos 39 pedidos no programa, com o intuito de intensificar o espaço para compra e venda no espaço mais nobre do mercado e relocar as áreas de serviços, apoio e administrativos para outras áreas do nosso projeto.
No primeiro anexo feito na parte posterior do mercado, mantivemos a estrutura do telhado e a cobertura, e decidimos pela demolição das alvenarias para configurar um novo espaço com acesso e permeabilidade visual para a praça externa, ampliando a área do mercado casa haja em conjunto uma feira livre ocorrendo no exterior.
Priorização do pedestre:
Dando continuidade e importância ao preferido pelo município, valorizamos a participação do pedestre de diversas maneiras no projeto. A possibilidade variada de acessos, por todas as ruas e laterais do conjunto, garante uma permeabilidade por todos os espaços do mercado, evitando conflito com circulação, entrada e saída de automóveis. As calçadas ao entorno do conjunto foram ampliadas para maior conforto do pedestre. Incluímos o mercado na rota das ciclovias que serão implantadas em Lages, e bicicletários como apoio ao ciclista que visita o mercado.
Analisando o terreno como é utilizado atualmente, percebemos um grande desperdício de área para a manobra e estacionamento de carros. Valorizar o pedestre não significa abolir completamente o uso do automóvel, mas organizar e locar corretamente seus acessos e vagas. Decidimos por relocar as vagas para que seja possível o uso completo do térreo do terreno a disposição.
ESTACIONAMENTO E SUBSOLO
O programa de um mercado é acomodado no piso térreo em quase todas ocasiões. Para que haja um melhor aproveitamento da área do terreno para a acomodação da parte funcional do mercado, propomos a construção de um nível subsolo para abrigar uma parcela das vagas sugeridas no edital, enquanto a outra parcela situa-se se na rua Manoel da Silva Ramos em frente ao mercado. O nível deste subsolo está de acordo com o caimento natural do terreno do bairro, facilitando o acesso pela rua Monte Castelo que está em declive.
Este subsolo comporta 17 vagas para carros particulares, e sua locação poderá gerar receita que auxiliaria nos custos do novo mercado. Mais 23 vagas estarão disponíveis na rua Manoel da Silva Ramos.
NOVO ANEXO
Devido a extensão do programa pedido e a intenção de modernizar o mercado como espaço e como instituição, propomos a construção de um volume anexo, porém destacado do mercado antigo. Um volume de gabarito baixo, concebido através de uma laje de concreto em steel deck sobre o estacionamento subsolo e um conjunto de 6 coberturas modulares de estrutura mista, metálica e concreto. Neste volume, se concentra o programa de serviços com restaurantes, bares e cafés. O fechamento posterior será feito com elementos vazados, e na fachada frontal um fechamento por folhas de vidro de correr, possibilitando o controle da ventilação.
ESPAÇO LIVRE
No afastamento entre o antigo mercado e o novo anexo proposto, cria-se uma praça no eixo do alinhamento com a rua Manoel da S. Ramos, com aproximadamente 300m², dando mais possibilidade de acesso ao mercado e incentivando a entrada de pedestres. Além de servir como espaço de circulação, permanência e também de lazer, este espaço poderá ser utilizado por feiras temporárias e eventos de curta duração ao ar livre. Conta com piso semipermeável e projeto paisagístico para dar conforto térmico e visual.